terça-feira, 13 de outubro de 2009

Volta.

minha mãe levanta a cabeça do colchão
me manda dormir
não vê que tento me redimir
escrevendo essas linhas depois de meses
de Pura paralisia literária
ela diz isso e volta a sonhar
eu fico aqui tentando espantar a catarse
remover o mofo acumulado nos meus versos
injetar nova energia
explorar outros universos
e toda essa doença instalada
já não me aterroriza
se ainda me resta poesia
e quando me perguntam o que faço
eu logo digo: nada
pois se digo que atuo e escrevo
pensam na hora que sou vagabundo
há algo de errado com esse mundo
ao menos nessa parte
artistas não são putas
nem santos, nem mártires
talvez heróis loucos
irremediavelmente apaixonados pela arte.
é difícil ser escritor
há de se ter coragem, insistência
persistência, paciência e
alguns cigarros pra queimar, enquanto tento
dispersar o branco da folha que me esvazia
a mente quando toco o caderno.
não sou obsessivo. até gostaria.
cismar de me trancar no quarto e só
sair quando escrever algo decente.
mas isso seria perigoso, talvez morresse de fome
antes de vomitar uma pérola. mas a dificuldade inspira.
se fosse fácil eu nem tentava.
bloqueio criativo é como um câncer.
se você não faz nada ele cresce e se alastra.
metástase que come inspiração à la pac-man
até que nada mais reste fora o branco
e o som do vazio.
então você tem de escolher.
abraçar o silêncio enquanto as folhas amarelam
ou gritar com tinta antes que todos se esqueçam.
agora me lembro.
sim, eu já escolhi.