terça-feira, 24 de março de 2009

Karma knockout

Não não não não


É apenas negação

Karma knockout

Outro beijo no chão.

Eu continuo morrendo

Ele continua correndo

Ela segue sentindo.

Estamos todos vivendo

De que?

Quase sempre mentindo.

Não não não

Paliativos

Sem solução?

Ainda é outono

Ele quer verão

Ela quer inverno.

Eu quero cores

Não flores

Nem as delicias do Inferno.

Não, não

Meus amores

Nada aqui parece eterno


Nessa egotrip

Somos efêmeros atores

Autores e diretores


E mesmo com o roteiro na mão

Nem tudo se resume

À luz, câmera e ação.

Não.

Nem tudo é de mentira aqui

Nem tudo é tão real

Nem tudo é negação.

Incendiemos então

Tudo e todos

Que nos tornemos cinzas


Se não for em vão.

sábado, 21 de março de 2009

Equinocio

Qual sera o peso desses sentimentos que me pressionam pra sair

Que não se aguentam dentro de mim

Que me apertam a garganta como grito preso

Que partem do misto de impotência

Vontade imobilizada que acaba em automenosprezo

O que de fato então mereço?

Se não me sinto leve, nem muito livre

Apenas solto.

Se me sinto menos

Como posso ser mais?

Que variável estranha e insensata

Nos mantém distantes

Desprotegidos e fora

De nosso próprio alcance

Em pleno equinócio

Já não me importam as horas

Se sem o que me falta

São todas corroídas pelo ócio

São rascunhos toscos que sempre jogo fora.


Agora eu ando contra o vento

Enquanto as folhas morrem

As crianças correm inocentes

Enquanto as flores morrem

E os velhos dormem tementes

O vento desolado sopra versos pra mim

Como se fossem sementes férteis

Como se isso não fosse ter fim.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ilusionismos.

lá fora choveu o dia todo, e talvez a cidade 
esteja abaixo da linha da lama
aguaceiro que não lava a alma
o céu fechado para balanço
não recebe preces
apenas as derrama

sem calma.

aqui dentro, um pouco mais seco
algo meio calmaria
meio tormento
sempre fui todo sentimento
será uma pena
será que valeria? 

hei de ficar atento.

e quando a primeira chance passar
agarrá-la, pedir que me leve
já não posso esperar
os ponteiros jamais perdoam
quem se ilude
quem se pensa imune

quem se acha doente demais pra dançar.

eu quero correr
pode ser para o mar
para as montanhas
pra uma clareira de luar
prateada e quente quanto
corpos que ardem na eternidade do momento

que nem a morte os poderia tocar.

minhas fantasias me carregam
e me despem de mim
que doce e amargo privilegio
enchem-me de ilusões
para livrar-me do tédio
como se houvessem inventado poesia

para poetas doentes, como se fosse um remedio.

Summertime.

Tenho uma séria queda pela vida
Em múltiplos sentidos e
Matizes
Contornos
Contrastes

Sorrisos
Perspicácia
Inteligência
Tudo isso me atrai muito
Me faz querer correr um pouco de risco

A velha sensação de estar vivo
Você se lembra?

Sou dionisíaco e amante da noite e um pouco prolixo
Ultimamente, contemplativo, praticamente casto
Cumulus-Nimbus
Café e
Um silêncio devasso

Um pequeno caos
O meu Dharma obscuro, absurdo
Meu centro gravitacional por vezes se inverte
E vejo velhas coisas com novos olhos

Verdes
Roxos
Castanhos
Diferentes cores, nuances, texturas
Pensamentos antigos refletindo em ações futuras

Como se pudesse planejar
Como se fosse possível entender

Abstraio
Confundo
Questiono
Conquisto coisas sem querer às vezes
E perco outras por quere-las demais

O grande senso de humor do Universo
No budismo, samsara
Pra igreja, castigo
Pros pagãos, a natureza
Eu, costumo chamar de ironia

Enquanto isso, segue o grande baile da existência
Em essência, nossa eterna busca não passa de um acorde
Que vibra e sacode e se propaga, contribuindo
Para que tudo mantenha um certo ritmo
Algum compasso e sincronia, uma big band

Um big bang, o grande orgasmo divino
Devaneios displicentes
Obscenos
Incertos como o Destino
Certeiros como bala perdida

Sinceros como um tiro, esses rabiscos
É certo que menos destrutivos
Talvez mais doloridos
E menos tristes que aquele velho blues
Sobre o céu de verão

Branco e cinza
Sem Sol
Sem azul
Apenas luz, claridade fosca
Ofuscante

Sinto aromas distantes
No tempo
No espaço
Bem perto, me despertam
Lembram maresia e morangos

Tempestade iminente

Folhas verdes ao chão

'There ain't no cure, baby

For the summertime blues'.


*mais um dos velhos, mais um fim de verão.

segunda-feira, 9 de março de 2009

e só.

é apenas uma segunda
mas o céu
o céu está além do véu de nuvens
que derramam pesadas gotas
enormes lágrimas celestiais entre
soluços de trovoadas
as arvores se remexem como numa dança
como num ataque de espasmos
talvez voassem, talvez
se não estivessem presas, se não soubessem
ter raízes.

e como um galho solitário
eu ocupo a casa
balançando entre cômodos vazios
espaços deixados vagos
na mesa o maço de cigarros
apenas quatro
na embalagem que exibe um rato
morto, muito simpatico
vou acender um, preciso de um trago
em cima da geladeira há uma garrafa de cachaça
que me olha
tenta parecer atraente, o liquido estatico
e quente
tenta parecer uma boa ideia
e me lembrar dos tantos dias tortos
que consertei me fazendo torto tambem
mas não

eu só quero amor e arte

nem que seja em doses homeopaticas
mesmo que seja dolorido como sempre foi
ou que digam que já é tarde
eu só quero ela

eu só quero amor e arte.

sábado, 7 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Aos Olhos de Aya.

alguns aqui se dopam por falta do que fazer
outros pelo excesso 
e outros sem motivo mesmo
ladeira abaixo, adrenalina em cima
um mar de refugiados de si mesmos
e eu que estava ilhado, tento fugir da inundação
me manter sóbrio, me manter são
nesse manicomio.
- essa camisa de força não é minha!
então me perguntam o que faço aqui
eu não consigo responder, engulo duas pilulas
e saio dando autografos pros mais chapados que eu.
mas não era pra ser assim, será que eu sou assim?
confetes, eu quero confetes pra mim
quem sabe eu desperte, ou me lembre
que não sou aquele monstro na lista dos mais procurados
e nem aquele niilista do caralho
viciado dos viciados, filha da puta sem alma
comedor de filha alheia, louco
e mal amado
esse não pode ser eu, não pode.
e mesmo sabendo disso fui convencido
fui vencido pela exaustão
e as mentiras mil vezes repetidas ecoaram
três mil vezes 
e fez-se a verdade
forjada em brasa, embebida em veneno
liquefeita, injetada e absorvida. pronto.
nem ardeu, foi esquecida logo
como se fosse parte de um plano superior
um tsunami de torpor.
mas no quarto acolchoado, entre uma dose e outra
existem delirios lúcidos
de ego espatifado e espírito de calamidade
e aquela fresta de verdade
aquela fresta
pode trazer à luz o esquecido 
e iluminar o fodido mais infeliz da cidade
e se conseguir forças para acreditar
aquela fresta, se tornará maior
e logo poderá atravessar e retornar
voltar a ser o que sempre foi
muito melhor talvez, aos olhos de Aya
aos olhos no espelho e aos olhos do mundo e aos olhos do todo e não mais haverá cegueira não mais haverá tortura só haverá caminho e a certeza de que não estamos sozinhos.