quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

15 Passos

eu dei pra ela um amor que eu não tinha.
eu sei, eu sei como. eu sei que não podia tanto quanto devia.
eu sei. mas mesmo assim eu dei.
eu dei por que sei que ela precisava mais que eu.
eu sei que não havia, por isso inventei.
mas isso não se pode chamar de mentira, porque é verdade.
e verdade por verdade...só depende de quem acredita.

eu acreditei.

eu acreditei nos olhos, e perdi a fé.
acreditei na matéria, na ciência.
eu peguei a pá, desandei a pé.
duvidei do destino, perdi a paciência.

doei tudo que tinha, abri minhas gavetas
revirei os armários, os meus bolsos
escondi meus cadernos, ignorei meu passado
e preenchi o mundo dela.

o meu esvaziei.

e no meu vazio, a cheia dela me inundava.
passaram-se carnavais
sua luz de lua crescente me cegava.
apagavam-se os sinais
minha estrela distante quase não brilhava.
mais, mais, mais, mas
me sentia minguando...e de tão leve e entorpecido

parecia que flutuava.

cheguei a estratosfera
vi o planeta nascer
o sol raiar
a noite cair
e o ciclo recomeçar
mas aí começou
começou a faltar ar
então sua voz era apenas um grito
violento, imperativo

parecia que queria me ferir
me isolar
me banir, me bater
me impedir de querer
eu só queria, eu só queria você
eu só queria morrer (como pude terminar onde comecei?)
ou então acordar (como pude terminar onde eu errei?)

você nunca quis perder, mas não soube como ganhar

mas era só a queda, a minha queda.
o voo inevitável rumo ao eu que ignorei.
o mergulho. meu inexorável retorno ao que
jamais deixei de ser. é, eu voltei.
eu. aquele. que. não. consegue. viver. dando. amor.
sem. receber. um pouco. ao menos. de. calor.

então finalmente o seu fio desenrolou.
rompeu-se o velho e mórbido silêncio.
e o frio me despertou, o apetite de algo que não seja sem sabor.
o gosto pelas velhas e boas e doces palavras. os vinhos e a música.
a curiosidade em sentir de novo o que pode ser o amor.
você tem fatos para o que quer que seja.
a licença poética de ligar as 3 am pra investigar a distância
que você mesma criou entre o que você faz e o que deseja
o que eu faço longe da tua corrente
ou que maré é essa que me arrasta pelo rio
e faz querer me deixar levar pela correnteza.

mas eu não tirarei meus olhos da bola novamente
eu não quero mais as certezas nem as celas
você sempre me enrola e depois corta o fio.
eu já não vejo mais beleza nesse meu sacrifício
eu já te dei vida, pequena, um novo solstício
e não quero mais esse stand-by, não quero mais
precisar de airbags a cada conversa
não quero mais olhar teus olhos parados tentando me parar
como se fossem braços, eu estou indo embora, amor

só mais 15 passos.









terça-feira, 14 de dezembro de 2010

King Of The Rodeo

He's so the purity, a shaven and a mourning,

And standing on a pigeon toe, in his disarray

Straight in the picture pose,
He's coming around to meet you

And screaming like a battle cry, its more if i stay

Me and your cold, driving in the snow,
Let the good times roll, let the good times roll
Cowgirl king of the rodeo, let the good times roll,
Let the good times roll

How dare you come to me like withnail for a favor,
Hold on not my fairy tale you're trying to start

Take off your overcoat, you're staying for the weekend,
And swaying like a smokey grey, a drink in the park

Good time to roll on.

kings of leon

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De:

Deusa encarnada em sua irresistível forma humana
Boca feita de algum tecido celestial
Raros são os que ficam impassíveis ao seu toque macio
Seu gosto surreal testa a sanidade dos escolhidos
Confunde seus sentidos e desperta seus instintos
Os olhos hipnóticos tornam impossíveis os movimentos
Durante a eternidade que duram tais momentos
E suas vítimas cedem e gozam de tal tormento.
Sua presença é feito um fenômeno da natureza
Furacão nas cabeças dos garotos; vendaval
Corrosão no ego das mulheres, vulcão em erupção
Engole os homens descuidados com seu magma e
Causa taquicardia no coração das estátuas
Derrete calotas polares e inunda as cidades com a
Divina Beleza, e os prédios tremem enquanto ela
Caminha com volúpia, na mais suave delicadeza.
Qual mistério, que segredo guarda em tua intocável profundeza?
Que monumento poderia superar a inexplicável simplicidade
Da tua grandeza?
Pobre dos que se pensam sábios para decifrar
Pobre dos profetas que tentam prevê-la
Pobre dos felizes que podem amar-te sem nunca tê-la
E pobre dos poetas! Ah...pobre dos poetas
Cheios de platonismo e tristeza, que vivem
Para eternizá-la em seus versos, sonhando inspirá-la
Para depois soprar ao mundo tuas maravilhas
De menina-mulher com ares de deusa
Deusa das deusas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Explicações (uma tentativa)

Eu tenho tentado sorrir, mas dói. Como se essa licença me tivesse sido tirada, como se o rasgo na minha cara fosse costurado, como se parecesse algo sempre simulado. Nunca os cigarros queimaram tão rápido e ansiosos por evaporarem me consumindo, nunca os consumi com tanto asco, me sentindo obrigado a ser tragado pela fumaça que finge me aliviar e me levar com ela pra longe, para o cume do ar.
Eu tenho tentado viver em paz, sem escolher um lado, sem ignorar meu fardo, sem esquecer meu passado mesmo sendo tentado. Não consigo mais ser tão dissimulado. Ser eu no palco e fora dele um ator. Ser contaminado pela descrença alheia, ser só mais um idealista a afundar nessa coisa movediça, nessa areia composta dos restos dos sonhos de gente que desiste. Eu insisto. Eu existo, acho.
Eu tenho sido incapaz de amar mais. Tenho o que veio antes e o que vem depois mas não sei o que fazer agora nesse limbo de existência, o meu eu. Eu esse que não aprende a se prender, continuamente se desprende com excelência, deixando coisas pendentes, caindo eternamente feito estrela cadente com um brilho fosco de abajur antigo de um tempo decadente.
Esse eu deveria ser outro. Deveria ser o que os outros veem. O holograma. A pintura. O intelecto, o charme, os olhos, a cultura, o som, o beijo, o abraço, o estilo, a pica dura. Mas não. Esse eu é outro. Esse aqui é mais real, mais perdido. Esse aqui tem dúvidas e dentes a menos. Tem a doença de sempre querer uma cura.
Onde está a cura afinal?
Pra minha EQM constante, qual a solução pra esse eu que não consegue deixar de ser uma tristeza ambulante, um pedinte mendicante que não consegue dar amor? Eu não posso fingir felicidade, se tudo que sinto é dor, não posso despertar estando chapado nesse torpor.
Sinto que não posso esperar a salvação chegar, nem a loucura passar e muito menos minha vida naufragar. Sinto que não posso me entregar a algo que me consome, que me engole e me vomita todo dia e nas noites me mastiga devagar.
Sinto que disse e disse e disse, sem conseguir explicar. Outra vez falhei.
Sinto que sendo inútil então dizer, talvez seja melhor calar.
Calei.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nós um dia, por J.K.

"Eu podia reclamar do mel na buceta de uma mulher, ou cantar uma música sobre como você pode morrer asfixiado num túnel fechado; ou cuspir em lábios rosados que emolduram e dão forma ao desejo íntimo de não querer mais nada a não ser um cacete, que é o olhar no rosto de uma boa mulher, Jack. Essa aqui usando essa imitação de renda para esconder a buceta verdadeira (imitação etc.) com os olhos líquidos e negros, toda selvagem e meia-noite, toda macieira e ouro, sem pose estúpida nem sarcasmo, sem o comercialismo odioso, como uma puta fazendo biquinho, mas com os lábios de vagabunda safada, chupa, fica aí perto, come, faz até o fim, bonequinha linda os pêlos entre suas coxas são a minha meia-noite; as luzes do teu constelolhar me fazem ver a lua e seu velho rosto triste sempre enluarando o mundo, não importa o que aconteça; éramos eu e você debaixo de um teto, querida, amor, coração, a lua com a mesma condominânçia biceptual, bissexual explodiria num clarão azul para as nossas almas e você, anjo, teus pulsos me deixam com fome, a tua cada partezinha minúscula de fêmea em ti por todo teu corpo é mulher, eu não resistiria nem na igreja, eu lamberia o teu ventre claro em qualquer lugar, diante de qualquer multidão, a qualquer hora, na cruz, no Gólgota, num monte de neve, numa cerca, eu te daria um salário-base de $57,90 por semana e faria você me chupar ao lado da máquina de lavar roupa enquanto o sol vermelho afunda no Pacífico como um cliente de puta, ah sua adorável coisinha admirável de olhos cinza dos sóis, mulher, coração lindo, corça perfeita, coelha, vai te foder, eu quero meter a mão nas tuas coxas e separar elas à força e quero que você fique só deitada me olhando, me olhando, você pode me olhar o quanto quiser e eu posso te olhar o quanto eu quiser, um entendimento perfeito, chega de Rimbauds, chega de perfumes, de poemas, que nem você, sempre quis ser, desde o início até agora o princípio, que nem sempre gata querida, é assim que vai ser, e a lua ainda está lunisserrando o pobre nada?"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Moonline

Ainda me encontro acordado enquanto todos dormem.
Há alguns anos apaixonei-me pela noite, e em seu tributo, só adormeço quando amanhece.
Em frente ao espelho do banheiro, diagnostico-me solitário. Por outro lado alguns dizem que se importam. Mas nós nos acostumamos a relembrar os momentos compartilhados. E os que estamos sós?
Naquele reflexo, miro meus olhos, e perdido naquele espaço verde-folha vislumbrei todo esse lapso e tive um calafrio. Estava sozinho, óbvio, sempre estive, e mesmo assim estranhei.
Apaguei a luz e re-acendi em seguida. Ainda era o mesmo. Ou não? De fato a escuridão muda um pouco as coisas. E quando retorna a luz, nem tudo está no mesmo lugar.
Quanto aos sentimentos, tento reciclá-los, mas não sou tão puro assim. Inconstantes, necessitam sempre de manutenção, como um antivírus.
Spywares insistentes tentam corromper meu sistema, envenenando-me com incertezas e outras tolices. Mando todos para a lixeira.
Mas um pedaço de mim sempre vai junto.
Delete.
Sem back-up, busco upgrades. Reinicio. A essa hora estão todos off.
Só a Lua minguante, oculta pelo teto úmido, sorri sarcástica, seu status Online...

Viva la vida

São nessas horas que a folha em branco não é nada, só um pedaço de papel esperando o próximo golpe.
Mas devo situá-los - aqui em São Paulo - Brasil - América Latina pra quem não sabe - muitas e muitas e muitas coisas acontecem todo o tempo, e tudo é tão corrido que minha caligrafia desce pelos meus dedos tão rápida e violentamente que temo não compreender o que quero explicar, entende?
Aqui eu encontro.
Eu me encontro.
E me perco, me encontrando.
Me acho me perdendo.
E gosto. Me encosto, descanso, e quando vejo
Ainda são dez horas e um novo encontro
Nunca demora. Há sempre o próximo capítulo
O próximo apocalipse - um novo holocausto? -
Mas isso é o de menos quando você vive mais
Então os bares e as cervejas e os músicos tocam e
Tocam e te tocam
Então você canta para o mundo e ele sorri
E é aí que você percebe que é tudo. Que você é tudo, e
O tudo depende de você.
Equilíbrio. Companhia. Alicerces. Bucetinhas. Bons amigos. Cervejas
E quando falta amor ou maconha, você torce pela próxima maré.
As ondas. Tubos e tubos. Então você pede que a vida seja boa com você.
E se esquece que VOCÊ tem de ser bom com a vida.
Aí você se fode. Se torna fraco e triste e talvez um suicida.
Você mergulha no abismo, e nem se dá conta de como tudo é
Tão simples.
Viva la vida!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tardio

nesses dias de tédio sentimental, tudo que eu queria era ler algo feito pra mim e escrever pra alguém verdades absolutas sobre sentimentos aterradores que te pegam numa madrugada qualquer quando você já não tem mais ninguém pra apelar ou se apegar, quando parece que o mundo vai simplesmente acabar se ninguém disser o que deve ser dito ou fazer o que devia ser feito, mas eu penso oh deus onde eu estive perdido esse tempo todo, ninguém é mais como antes e a culpa deve ser toda minha (...)

*extraído de um comentário feito por mim em um blog abandonado.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Augusta (In-dependência)

O acordar ressacado de relógio adiantado
a hora da ida, que passa
a condução perdida me leva a encontros esperados
encarar a metrópole em boa companhia
é quase melodia para ouvidos desesperados
e chegar lá a tempo seria especial
pra quem sabe como é duro correr na direção certa
mas chegar atrasado.

eu quase sempre chego atrasado.

Na marginal penetramos a garoa
meus pensamentos tentaram correr
em direção a garota mas ela fugia
não, na verdade ela não existia ali ao meu (não) ver
eram apenas eu, dois amigos e suas amigas
jovens demais pra uma brincadeira
cara ou coroa
- gato mia?

miau.

O ônibus para e dispersa minhas visões
de menino mau, e na estação o tempo ainda corre
enquanto na Paulista uma alemã vem em rota de colisão
eu não desvio e ela quase me abraça
I'm sorry em uníssono e depois um sorriso
ruborizado e ela segue e eu não consigo
entender o porque de olhos tão azuis
me fazerem sentir como se algo tivesse congelado

aqui dentro.

Mas talvez isso fosse só o vazio do vento
frio que deixa meio londrino o clima do centro
e descendo a Augusta a única Heineken do dia
descia amarga e gostosa garganta abaixo
enquanto meus Free's iam incendiando
me fazendo de capacho, uma espécie de escravo voluntário
soltando fumaça eu pensava em como seria John Lennon
comemorando o septuagésimo aniversário

mas lembra dos ponteiros, e meu problema com horários?

Chegamos e não havia mais celebração, pessoas voltavam
ainda de longe vejo a garota, ela sorri em nossa direção
eu tento uma cara que suporte o desapontamento
desisto, assumo a decepção e aperto mão por mão
das pessoas que a garota nos apresenta
novos amigos, novos amores
novos (nem tão?) conhecidos
alguns pareciam divertidos, outros não

alguns pareciam réplicas de gente que eu já havia esquecido.

A missão agora era afogar o resto de feriado
em um mar de cervejas em qualquer um
daqueles bares de esquina
e de volta a rua Augusta observei os paulistanos
cheios de efusividade, meninos e meninas
com ares da carência típica das pessoas da cidade
e logo as duas tribos estavam ali, quase misturadas
enquanto eu girava por todos os lugares feito um Pete Doherty

tendo crises de abstinência.

7 de setembro, dia da In-Dependência
a garota me cede um cigarro, paga a cerveja
e desaparece com competência, eu agarro outro copo
fechos os olhos, sinto o cheiro da garoa
e quando os abro novamente, de súbito
tudo parece um tanto diferente
eu já não sinto nada

nada, fora sede.

Posicionado estratégicamente no centro da mesa
revezo entre as marcas de cerveja
o papo continua, o céu escurece
Pedro, Ju e Ademar continuam no triângulo
que não dá nem desce
a parte paulistana cogita um cinema
mas já era hora de voltarmos
no fim, cada um pro seu lado, sem problemas.

Subo a rua disperso em todos seus sons.

No caminho, ambulantes fogem do rapa
e no metrô ríamos cansados e satisfeitos
lembrando do show que não vimos
e dos travecos e dos garçons e das putas
e dos olhos azuis perfeitos
na estação, esperar foi o de menos
a brisa chegou antes do ônibus
graças a uma pequena dose do doce veneno

- veneno, não! medicina alternativa!

E com a cabeça ativa no caminho de volta
deixo um sorriso de leve no rosto, em minha boca
eu sinto o gosto agradável da bala de morango
Pedro cede, Ademar segue Ju que não cede
Lindsay não cala, o trânsito segue lento
a outra garota me olha, pensa, mas não fala
enquanto persigo as luzes lá fora
minha mente lança perguntas ao vento, como

Se o Amor existe, quanto tempo temos fora o agora?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Olhos de Abismo

Cápsulas de fúria estouram em meu sistema digestivo
ou digestório, não importa
tudo já é sugestivo o bastante
ridículo o suficiente no meu Mundo Ilusório
onde ser bom não é ser bobo
onde o veneno às vezes é o melhor remédio
e os bons momentos são os mais demorados.
Mas aqui há algo errado. O céu cinza inspira o tédio
e aqueles azuis são muito áridos.

Mas não é isso. Não, não é.
Sinto que querem minha pele, querem um sacrifício
que quem sabe eu apodreça na prisão
- ou em uma porra de hospício -
Mas não é isso. Não é "só" isso.
Minhas energias se esvaem e o meu sono não vem
meus amores vão, as minhas lágrimas caem
as pessoas não vêem.
Elas nunca vêem o mal que fazem.
Genocídio e desperdício.
Egoísmo.

Meu eu lírico confunde alívio e suicídio
meu "eu" eu tem crises de identidade
e vaga em delírio.
Mas não é só isso, não, não é só isso.
Entre os espectros e retrospectos tudo não
passa de mero deja vú. Vês?
Eu não vim.
Não vi.
Não venci.
Quando pude abrir os olhos
tudo estava assim: O começo esquecemos
O meio - o mais importante - ignoramos
E por fim veio o fim
e finalmente nos perdemos.

não há mais romance nem música
não há mais poesias platônicas
não há mais inspiração ou lirismo

O que resta desse poeta é meio amargo
vinte e dois megatons de tristeza
e um par de olhos que refletem o Abismo.

domingo, 15 de agosto de 2010

eu teria escrito isso se

Torna o meu leito, Colombina!
Não procures em outros braços
Os requintes em que se afina
A volúpia dos meus abraços.

Os atletas poderão dar-te
O amor próximo das sevícias...
Só eu possuo a ingênua arte
Das indefiníveis carícias...

Meus magros dedos dissolutos
Conhecem todos os afagos
Para os teus olhos sempre enxutos
Mudar em dois brumosos lagos...

Quando em êxtase os olhos viro,
Ah se pudesses, fútil presa,
Sentir na dor do meu suspiro
A minha infinita tristeza!...

Insensato aquele que busca
O amor na fúria dionisíaca!
Por mim desamo a posse brusca:
A volúpia é cisma elegíaca...

A volúpia é cisma que esconde
Abismos de melancolia...
Flor de tristes pântanos onde
Mais que a morte a vida é sombria...

Minh'alma lírica de amante
Despedaçada de soluços,
Minh'alma ingênua, extravagante,
Aspira a desoras de bruços.

Não às alegrias impuras,
Mas a aquelas rosas simbólicas
De vossas ardentes ternuras,
Grandes místicas melancólicas!...

do grande manuel bandeira - Pierrot Místico

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

quinta 12 / sexta 13 [poeminha]


céu azul, luaR crescente e logo noite,
lua de sorriso amarelo minguante,
me lembra o mel de noites distantes,
mas logo as estrelas caem...
e me sinto incompleto e radiante!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vinte e dois

Vinte e dois de junho.

Há vinte e dois anos atrás eu mergulhava assustado no mar de luzes brancas que não me deixavam abrir demais os olhos e em meio ao barulho ensurdecedor do caos dos carros na avenida nove de julho do lado de fora da janela, eu gritei, pela primeira vez.

Vinte e dois anos à frente, na madrugada gélida no início de mais um inverno, sozinho na sala de casa. Apenas eu. Eu e o silêncio. Um cigarro, um café requentado. A respiração dos que dormem. Se houvesse um número, talvez alguma mensagem chegasse, talvez. Se a internet funcionasse, eu notaria mais cedo e desinteressado a falta de criatividade dos mecanizados que desejam o velho parabéns, tudo de bom, muita saúde, paz e dinheiro no bolso. É fácil falar. Ninguém pensa na sua saúde enquanto você acende um cigarro atrás do outro. Muito menos na sua paz, quando nada parece dar certo, quando as mulheres não te olham e não te querem, quando você se senta pra escrever e sente o vazio sufocante da folha e seus dedos não se mexem, quando você cai, quando não vão com a tua cara, ninguém de fato se importa. Ninguém põe um Real no seu bolso ou te paga um café. Não te oferecem um bolinho de haxixe, nem um pouco de sexo casual só porque há vinte e dois anos atrás você ganhou o incrível privilégio de estar pronto pra morrer.

Sem novidades, deitei em minha cama e dormi. Nos meus sonhos o meu subconsciente jorrava imagens de pessoas e animais e situações absurdas, que não valem registro. De manhã, minha sobrinha chega para esperar o horário da escola. Me acorda e pergunta sobre o controle da tv. Eu o pego no canto do colchão, troco-o por um beijinho e volto a dormir. Sono despedaçado. Abro os olhos de vez em quando. Ouço minha mãe chegar para o almoço e finjo ainda dormir pesado. Por algum motivo, não quero me levantar. Adormeço de novo, esperando que alguém me acorde com algum carinho, que me dê um abraço. Desperto de novo com a narração de um gol. Olho fixo para o teto, já deve ser de tarde. Tenho de buscar remédios para minha mãe no posto de saúde. Posso aproveitar para passar em alguma lan-house e checar meus e-mails. As melhores mensagens sempre vem por e-mail. Fecho os olhos. Hoje parece ser o dia mais frio do ano. Por dentro e por fora.

Por algum motivo, ainda espero deitado, pensando alto. Começo por elas, claro. A primeira e mais tímida, por mais que tivesse sangue espanhol, mandaria simpáticos cumprimentos via net, o que se confirmou mais tarde. A segunda talvez viesse, depois de três anos, me mostrar suas novas tatuagens e quem sabe outras coisas interessantes que aprendera nesse meio tempo, me olhando com os mesmos olhos meigos de sempre depois de testar meu fôlego. Não. Então penso na terceira, que viria acompanhada de dois ou três amigos em comum, trazendo cervejas e petiscos, talvez com um bom livro ou disco pertinente. Passaríamos uma tarde agradável, tomando o devido cuidado de não olhar muito nos olhos e parecermos bons amigos e não o tipo de gente que espera o menor descuido dos presentes pra relembrar o passado dentro de um banheiro qualquer. Não. A quarta não me surpreenderia. As outras são apenas outras. Chega. Nenhuma virá. Talvez, daqui a meia hora algum amigo grite no portão, ansioso por alguma boa celebração de terça-feira, então novamente eu fecho os olhos. Penso no meu pai. Sonhos breves e desconexos. Abro os olhos novamente, dessa vez ciente que ninguém virá. Não há o que, não há quem, não há mais nada a esperar.

Me levanto e sinto o frio arrepiar meus pelos do corpo inteiro, visto apenas uma calça leve. Passo pela sala, meu irmão assiste a novela debaixo de cobertas no sofá, eu vou direto até a cozinha, até a garrafa de café, pego um pouco e esquento onze segundos no microondas, enquanto acendo um cigarro. Sinto o olhar de desaprovação às minhas costas mas não olho. Bebo o café e termino de fumar olhando para o espelho ao lado do banheiro. Evito tirar conclusões, apenas termino de fumar, pego uma toalha e tomo um banho quente, exercitando minha técnica infalível de cantarolar músicas mentalmente para evitar pensar no que acontece do lado de fora. Um escapismo conveniente, ou uma fuga ritmada como eu gosto de chamar. Sempre funciona.

Saio no frio fazendo tudo rápido. Cueca. Meias. Desodorante. Calça. Camiseta. Blusa. Tênis. Cigarros. Isqueiro. Receita. Rua. O dia é cinza, o vento é ártico, com sereno constante. Eu caminho até o posto e lá me dou conta de que minhas primeiras palavras do dia foram “por favor, onde fica a farmácia?”. Retiro os remédios, faltou amoxicilina. Ando um pouco pela rua, nada demais acontece. Volto para casa a tempo de ver o jogo da Argentina contra a Grécia. Passo raiva, gregos não sabem jogar bola. Talvez entendam de churrasco gorduroso no Anhangabaú, ou de beijar cus por aí, mas não de futebol. Faço minha primeira refeição, um pão com manteiga. O jogo acaba, minha mãe chega, eu mostro os remédios, ela diz que precisava mesmo era da amoxicilina e me deseja um feliz aniversário, eu respondo um valeu inaudível.

Decido almoçar e sair. Talvez algo me espere lá fora, fora o frio. Talvez alguém esteja me procurando, fora eu. Talvez o futuro esteja guardando o meu presente. Talvez...

Mas não houve nada demais. Na lan-house, a garota que me conhece me deseja parabéns pelo aniversário e logo em seguida pergunta minha data de nascimento para fazer meu cadastro. Eu digo número por número observando sua expressão surpresa por ver que os números que eu dizia eram exatamente idênticos a data de hoje, exceto pelo ano. Algo se mexe dentro de mim. Dou a ela meus únicos cinquenta centavos, e ao creditar na minha conta, o sistema me dá duas horas extras pela data especial. Finalmente, um pouco de magia. Vejo os recados (parabéns, tudo de bom...etc.), jogo umas partidas de pôquer e saio.

Encontro uns amigos, alguns deles acendem velinhas. Outros abrem vinhos. Uma me entrega o original de um trabalho de escola feito com textos meus. Uma antologia. A professora quer me conhecer. Esqueço de perguntar se é bonita. A noite segue.

Vinte e dois de junho. Há vinte e dois anos atrás eu mergulhava assustado no mar de luzes brancas que não me deixavam abrir demais os olhos e em meio ao barulho ensurdecedor do caos dos carros na avenida nove de julho do lado de fora da janela, eu gritei, pela primeira vez, e não havia volta.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Solitário (Matando a fome com cigarros)

Matando a fome com cigarros, o solitário
Engolindo palavras, expelindo catarro
E a sede que não cessa com a água do aquário
Os lençóis que abraçam não afagam
Os lábios que se trincam feito barro
Buscam refúgio em lembranças que se apagam

Meus amores escondidos no armário
Envelhecem no papel
Na distância segura dos que sentem
Na calma fria dos que mentem
Quem faria o contrário?

Eu faria se soubesse não ser louco
Não hesitaria, nem centímetro deixaria
Entre um corpo e outro, junto soaria pouco
Um só chegaria perto de ser certo

Mesmo sendo inexato
Seria sensato
Ao menos quente

No mais, menos demente acaba
O cego que tem tato

E o solitário, nesse hiato
que de sono desaba





segunda-feira, 24 de maio de 2010

Epitáfio

Jaz aqui nesse lugar perdido, sobre esse fundo branco, mais um epitáfio dentre tantos outros que já escrevi, mesmo que por outros nomes eu os tenha chamado. Jaz aqui registrado em português pobre os restos de um sentimento carcomido e seco como jardim mal-cuidado. Jaz aqui meu cansaço e fadiga por ter tentado carregar algo que pra mim tornou-se demasiado pesado. Jaz aqui meu último sentimento de culpa por ter de certa forma falhado. Assim como você, eu falhei em acreditar que algum de nós poderia mudar. Mas agora eu sei que não, e espero que a essa altura você já tenha descoberto. Ninguém me molda, pois a vida já se encarrega do serviço. Ninguém me poda, sem meu consentimento, sem se cortar nos meus espinhos. Agora eu sei, ninguém te muda também. Ou talvez eu não tenha feito certo. Minha retórica sempre ecoou no seu silêncio. Meus argumentos sempre invalidados pelas tuas cobranças de nada valeram. Tuas manhas nunca me comoveram. Enquanto tuas lágrimas molhavam os lençóis, minhas lágrimas escorriam pelo ralo do banheiro. E nada mudou. Mas isso é só o final.
Antes disso foi bom, querida. Lembra, aquela química? As tardes envolvidas nas cobertas, a música, o ritmo? Nossas descobertas, a busca incessante pelo corpo do outro, os instantes infinitos que nos uniam. A fadiga, os banhos quentes, os cigarros depois do amor, as brincadeiras na cozinha quando tudo que o corpo pedia era mais combustível, mais gasolina pra podermos queimar logo em seguida, feito primitivos, sem nenhum compromisso com o mundo lá fora, com o que as pessoas costumam chamar de vida. Nós éramos Deuses, querida. Agora somos homens, pequenas criaturas caídas.
Pra ser sincero, eu te amei. Enquanto você dormia exausta e eu te olhava, eu te amei. Quando você vinha e me acordava com beijinhos e carícias, eu te amei. Quando soube que flertavas com o passado, eu tive raiva e te amei. Quando você me pedia e me provocava, eu te amei. Quando estava sozinho e te esperando, sim, te esperando, te amei. Enquanto você tentava me sufocar, eu continuava tentando, tentando continuar a te amar. Enquanto você me metralhava com desconfiança, eu ainda alimentava esperança, eu ainda te amava, mas acho que agora acordei, então pude olhar pra dentro, e não te encontrei. Talvez você nunca tenha entrado. Talvez tenhamos feito tudo errado, talvez...
Já não importa agora. Te perguntei o que querias de mim, o silêncio respondeu. Você disse que não queria se humilhar, eu nunca lhe pedi isso, só queria te ouvir falar. O silêncio respondeu. O que ele me disse? Ele disse: - Você se perdeu.
Agora você não pode reclamar. Tens o melhor de mim, a parte mais importante de mim com você. Já eu nada tenho, por isso nada temo. Já que tudo teve de ser assim, que seja. Nosso elo é eterno, sem fim.
Enfim. Creio que disse tudo que precisava dizer. Talvez tenhas conseguido o que queria. Com o tempo saberemos se essa coisa triste foi mesmo meu último resquício de poesia pra você.

Até qualquer dia.

M.


sábado, 13 de fevereiro de 2010

Bluebird

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I put whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?

c. bukowski