segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De:

Deusa encarnada em sua irresistível forma humana
Boca feita de algum tecido celestial
Raros são os que ficam impassíveis ao seu toque macio
Seu gosto surreal testa a sanidade dos escolhidos
Confunde seus sentidos e desperta seus instintos
Os olhos hipnóticos tornam impossíveis os movimentos
Durante a eternidade que duram tais momentos
E suas vítimas cedem e gozam de tal tormento.
Sua presença é feito um fenômeno da natureza
Furacão nas cabeças dos garotos; vendaval
Corrosão no ego das mulheres, vulcão em erupção
Engole os homens descuidados com seu magma e
Causa taquicardia no coração das estátuas
Derrete calotas polares e inunda as cidades com a
Divina Beleza, e os prédios tremem enquanto ela
Caminha com volúpia, na mais suave delicadeza.
Qual mistério, que segredo guarda em tua intocável profundeza?
Que monumento poderia superar a inexplicável simplicidade
Da tua grandeza?
Pobre dos que se pensam sábios para decifrar
Pobre dos profetas que tentam prevê-la
Pobre dos felizes que podem amar-te sem nunca tê-la
E pobre dos poetas! Ah...pobre dos poetas
Cheios de platonismo e tristeza, que vivem
Para eternizá-la em seus versos, sonhando inspirá-la
Para depois soprar ao mundo tuas maravilhas
De menina-mulher com ares de deusa
Deusa das deusas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Explicações (uma tentativa)

Eu tenho tentado sorrir, mas dói. Como se essa licença me tivesse sido tirada, como se o rasgo na minha cara fosse costurado, como se parecesse algo sempre simulado. Nunca os cigarros queimaram tão rápido e ansiosos por evaporarem me consumindo, nunca os consumi com tanto asco, me sentindo obrigado a ser tragado pela fumaça que finge me aliviar e me levar com ela pra longe, para o cume do ar.
Eu tenho tentado viver em paz, sem escolher um lado, sem ignorar meu fardo, sem esquecer meu passado mesmo sendo tentado. Não consigo mais ser tão dissimulado. Ser eu no palco e fora dele um ator. Ser contaminado pela descrença alheia, ser só mais um idealista a afundar nessa coisa movediça, nessa areia composta dos restos dos sonhos de gente que desiste. Eu insisto. Eu existo, acho.
Eu tenho sido incapaz de amar mais. Tenho o que veio antes e o que vem depois mas não sei o que fazer agora nesse limbo de existência, o meu eu. Eu esse que não aprende a se prender, continuamente se desprende com excelência, deixando coisas pendentes, caindo eternamente feito estrela cadente com um brilho fosco de abajur antigo de um tempo decadente.
Esse eu deveria ser outro. Deveria ser o que os outros veem. O holograma. A pintura. O intelecto, o charme, os olhos, a cultura, o som, o beijo, o abraço, o estilo, a pica dura. Mas não. Esse eu é outro. Esse aqui é mais real, mais perdido. Esse aqui tem dúvidas e dentes a menos. Tem a doença de sempre querer uma cura.
Onde está a cura afinal?
Pra minha EQM constante, qual a solução pra esse eu que não consegue deixar de ser uma tristeza ambulante, um pedinte mendicante que não consegue dar amor? Eu não posso fingir felicidade, se tudo que sinto é dor, não posso despertar estando chapado nesse torpor.
Sinto que não posso esperar a salvação chegar, nem a loucura passar e muito menos minha vida naufragar. Sinto que não posso me entregar a algo que me consome, que me engole e me vomita todo dia e nas noites me mastiga devagar.
Sinto que disse e disse e disse, sem conseguir explicar. Outra vez falhei.
Sinto que sendo inútil então dizer, talvez seja melhor calar.
Calei.