*ao som de Venus in Furs - The Velvet Underground.
Algumas pessoas no sofá, outras no chão. Do outro lado da sala, de pé, rente à parede ela o mirava com expectativa e excitação enquanto balançava o corpo hipnotizado, no ritmo da música.
Ele endireitou-se lentamente e abriu um sorriso azul de criança satisfeita, soltando o ar devagar pelas narinas, olhos meio mareados. Cantarolou sem som com a música...Different colors, made of tears...Ainda ouvia os ecos. Jogou o copo, alguém agarrou e serviu uma dose, ele caminhou para ela.
Ela adorava aquela música e algumas daquelas pessoas, não todas. Especialmente ele. Foi rápido. Ele fazia teatro, ela cantava no coral. Ele lhe apresentou Kerouac, ela retribuiu com Billie Holiday. Vodca. Café. Equilibravam-se. Ele entregava-se, ela se continha. Loucura e segurança, o abraço perfeito.
Agarrou-a pelo braço trazendo-a pra perto, rodopiando uma vez como numa dança e roçando a ponta fina de seu nariz subiu-lhe pelo pescoço, algo se remexia dentro dela; sentiu vontade de gritar, mas apenas o apertou com mais força nas costelas. Ele disse "Eu amo esse cheiro" e ela o apertou mais forte contra si e quis dizer que amava seu sorriso ou quando a tocava ou lhe dizia algum poema. Queria sentir seus lábios, queria...
Disse apenas "Eu sei", forçando um sorriso gentil e foi sentar-se no chão, pegando o copo e o isqueiro. Ele ainda de costas inspirou e engoliu a seco o nó na garganta, ela virou a dose. Ele acendeu um cigarro, fitando o céu pela janela que era uma pintura; a Lua minguante, no céu de inverno sem nuvens.
De fato, amavam-se, mas optaram por nunca destruir aquilo dizendo a verdade.