Era domingo e quando acordou já era noite. Dormira pelo menos umas 15 horas, pra compensar as 46 que atravessou sem descanso.
Sonhara pesadelos todo o tempo; quando dormia assim, em demasia, era atacada pelo seu estoque de fobias. Aracnídeos e essa merda toda.
Sentia-se leve agora. Leve e vazia.
Sentou no sofá, pegou o controle do som e apertou o botão. Já habituado, o aparelho começou a tocar, volume 36, a faixa 3 do disco do Lou Reed. Música perfeita para dias imperfeitos.
Apenas à luz do abajur, notou o esmalte descascado, e encontrou uma garrafa de vinho tinto, pela metade. Ao lado o maço de cigarros, Lucky Strike Originals, sobre a mesa de centro. Pegou os dois, acendeu e tragou, um gole, suspirou a fumaça enquanto apertava o repeat no controle. Mais um gole, outro trago. Olhou pro teto e tentou imaginar um motivo coerente pro fato do vinho parecer tão insosso em sua boca, enquanto na dele, ganhava nuances luxuriosas, ganhava vida. Agora parecia sangue. Filho da puta! Quatro anos a menos e cheirava à loucura. Palavras certas nos momentos exatos, o êxtase, o sorriso displicente, o 'até logo, a gente se fala'. Passos largos e lentos, olha pra trás um olhar esmeralda e dobra a esquina.
Eu, paralisada, ofegante, com a sensação dúbia de ter visto Deus, e um segundo depois não saber se era real. O que é real? Tsc.
Apagou o cigarro, deixou o som ligado.
Domingo, de noite. Adormeceu, olhos borrados de maquiagem.
Não sonhou com nada.
2 comentários:
O mais foda!(até agora.. rs)
senti um pouco de mim aí...
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