quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Circus Noir

quando as noites se arrastam rumo ao dia
em um strip-tease em câmera lenta
sob a luz branca e cega de uma enorme lua
pessoas se encontram e se perdem
se cospem e se despem e se metem
se comem, e se amam
se escondem, se abrigam
em plena rua, a plenos pulmões eles gritam
e uivam quando ela está no ápice
quente, louca e nua
então sempre mais é o que eles pedem
mais, mais, e mais dela que não é minha
dela que já foste tua e de todos
que vagam sempre procurando algo ou
alguém que possa ser usado, absorvido
inalado ou dissolvido antes que o dia queime
as retinas e revele toda sujeira
toda a insônia e toda infâmia rotineira
alvorecer de toda insânia
esconderijo dos poetas e suas olheiras
mas ela...a noite, sempre volta
então eles recomeçam a correr atrás delas
das puras sujas, das putas puras
das casadas e das donzelas
novas danças e carícias se consumam
até o dia raiar e eles começarem
novamente a morrer...enquanto elas dormem
os poetas de olhos vidrados fumam folhas em branco
ao som dos estampidos
as mães choram seus filhos e os doentes pedem cura
as crianças pedem o leite que seca nos peitos
e a vida continua...