Na minha humilde opinião, poucas coisas são tão românticas quanto cartas.
Engraçado como as duas coisas soam antiquadas nos nossos dias. Cartas e romance.
Não cabem nesses dias de pressa.
Pressa essa que nos faz querer tudo rápido, rápido, depressa.
Expresso. Um café por favor, antes que eu me esqueça.
Esquece, antes que me aqueça. Já foi.
Acendo um cigarro e busco formas na fumaça cremosa, disforme.
Círculos, fractais, a minha vista embaça. Volto ao começo.
Cartas. Há tempos não escrevo.
Falta motivação. Só apelo para uma carta quando não há saída aparente.
Quando é mais do que urgente, quando fico sem voz pra verbalizar frente-a-frente.
Quando o e-mail ameaça cair no lixo eletrônico ou soar impessoal.
Nunca uso o telefone, fico pensando em como ouvem minha voz.
Acho que ela soa mais bonita na folha, na cabeça de quem lê.
Eu sei, parece estranho e na verdade é. Algo sobrenatural.
Percorrer linha após linha, sentir o cheiro das folhas, se surpreender.
É físico, entende?
Alteração do ritmo cardíaco, o dilatar das pupilas, a absorção das palavras...
Os sentidos agindo, enquanto as palavras fluem e quando chega ao final, voilà!
É quase impossível se sentir impassível aos efeitos de uma carta bem escrita.
Algumas palavras gritam! Em silêncio elas sussurram e se agitam.
Sem qualquer alarde elas tem o poder de fazer o resto do universo desaparecer...
E o que fica é ela. Ela e você. Sempre que você quiser reler...
Então a fumaça me traga de volta dos devaneios.
Num relance, estou de novo no começo.
Romance.
Imagine todas as sensações que uma carta bem escrita causa, vezes três, sem precisar dizer nada.
E o universo novamente desaparece, a cada memória. E a segunda parece domingo de manhã, quando sua canção toca, e o coração dispara e você não vê a hora de vê-la de novo, e agora?
Que tal pegar um papel e uma caneta, um pouco de inspiração, um pouco de som...baixinho...
Talvez nem tudo esteja perdido, Senhor, não deixai coisas tão belas caírem em extinção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário