segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

009

um poeta sem sua musa soa como
um baile sem música
um vinho sem alcool na noite sem lua
zero vírgula zero porcento de inspiração é o que me move
e agora já é dois do um
dois zero zero nove
e não há o que lamentar
não há o que temer
apenas deixar que venha
o que virá
e que seja indolor
que tenha a ver
com correr e buscar
moldar esse maya antes que ele me molde
eu vou destilar essas palavras
antes que elas me afoguem
e vou soprar pra quem quiser sentir
vou ouvir quem fizer questão de cantar
e correr quando alguem me esperar
deixar que me inspirem como ar
e percorrer as veias de quem quiser provar
invadir e envolver e depois
tirar a noite pra dançar
pedir que fique o quanto quiser ficar
me munir de empatia
agora não há porque brigar
seu reflexo sumiu do meu espelho
mas eu não me canso de olhar
algo ficou
algo sempre fica pairando no ar
como se não tivesse passado tempo
e fosse possível tocar
mas as velhas coisas bonitas
aquelas pessoas imperfeitas e tão nossas
já não ocupam os mesmos lugares
são agora devaneios e frases soltas
assimilações de imagens e sons
e aromas esvaídos entre outros milhares
sei que já me peguei parado esperando
algo que não ia acontecer porque já tinha acontecido
e foi triste dar-me conta que as páginas eram outras
ainda em branco
ainda em pranto
recomecei a escrever novos parágrafos
verso verso verso e pronto
bastava começar e não olhar pra trás
sem revirar o que poderia ser
simplesmente partir daquele ponto
mas sem mentir e dizer que não imagino
um belo reencontro
regado a café e novidades
livros velhos e novas sonoridades
Jack Kerouac e Sylvia Plath
e todo o resto que só pertence a quem quiser
tudo aquilo que me arrepia só de pensar.

Um comentário:

Bertho Horn disse...

Cara...
Doeu... e muito.
Uma dor gostosa, daquelas que dá gosto sentir...
Maravilhoso.
Paz